Becker’s silence
Venderam-me o bilhete errado. Tinha comigo que ia ver O Rei da Comédia nessa noite. Depois de um copo, estava pronto para me afastar do meu dia engomado. Fui agarrado pelo Bénard da Costa que à cabeça da sessão dialogava sobre a gravidade que o filme transportava. Fiquei. E descobri Becker graças a ele.
Descobri que que o que não é incluído é igualmente notável em comparação com o que é incluído. Não se conhecem estes homens, nem o que fizeram para ali estar. Não existem fora dali. Mas isso diz tudo sobre eles e sobre quem os filma. O que é externo ao ser, não deveria existir, deveria ser indiferente. Mas ali, vive-se a lei natural e as peças encaixam-se naquele universo. O problema, é que estes homens se deixam escravizar pelos seus desejos - que estão fora dali. Acorrentados, não a um sítio como se poderia pensar, mas a uma ideia - não vivem. Não foi o que disseram que me fez chegar a isso, nunca é. Aliás, pouco dizem sobre o que pensam ou são. Foi como se comportaram. Como se movimentaram pelos túneis escuros em busca da clareza.
O problema é que a tona do mundo não é sempre iluminada. É escura, excepcionalmente. Não pensaram nunca que ficar debaixo do chão e existir apenas, poderia não ser mau.
They sold me the wrong ticket. Sure I was going to see The King of Comedy that night. After a glass of wine, I was ready to get away from my starched day. Grabbed by the hand of Bénard da Costa who at the head of the session talked about the gravity that the film carried. I decided to stay. And I found Becker thanks to him.
I found that what’s not included in a movie it’s just as important to what is included. These men are unknown, nor what they did to be there. They don't exist outside. But that says it all about them and whoever films them. What’s external to their being, should not exist, it should be indifferent. But there, there’s a natural law, and the pieces fit into that universe. The problem is that these men allow themselves to be enslaved by their desires - which are outside from the prison they live in. Chained, not to a place as you might think, but to an idea - they don't live. It wasn't what they said that got me there, it never is. In fact, they say little about what they think or are. It was how they behaved. How they moved through the dark tunnels in search of clarity.
The problem is that the surface of the world is not always illuminated. It is dark, exceptionally. They never thought that staying under the ground and existing only, couldn’t be bad.